A Inveja e suas Múltiplas Faces
- Ana Paula Costa
- 23 de mai.
- 4 min de leitura
Por que sentimos inveja? Desde os tempos mais remotos, esse sentimento está presente na cultura humana, nos livros sagrados, mitologias e registros históricos. Considerada um dos sete pecados capitais, a inveja é uma emoção natural do ser humano, mas lidar com ela pode ser desafiador, seja como alvo ou como aquele que a sente.

O Que é a Inveja?
O termo "inveja" vem do latim invidia, derivado do verbo invidere, que significa "olhar com malícia". Os dicionários oferecem definições que ajudam a entender sua essência:
- Oxford Languages: sentimento de desgosto diante da felicidade ou prosperidade alheia; desejo incontrolável de ter o que pertence ao outro.
- Michaelis: desejo intenso de possuir algo que pertence a outra pessoa, gerando avidez e cobiça.
Embora todos possamos experimentar a inveja em diferentes graus, isso não nos torna necessariamente invejosos. No entanto, quando o sentimento se manifesta de maneira intensa e destrutiva, pode ser prejudicial e exigir atenção.
A Inveja Segundo a Psicanálise
A psicanalista Melanie Klein, no livro Inveja e Gratidão (1974), ilustra a mentalidade do invejoso com uma fábula:
"Uma fada aparece diante de um homem invejoso e lhe diz que pode conceder qualquer desejo, com a condição de que seu vizinho receba o dobro. O homem, tomado pela inveja, pede à fada que lhe arranque um olho."
Essa história resume a lógica da inveja: não basta querer algo, é necessário que o outro não tenha ou que seja prejudicado.
Agora, pense em situações cotidianas:
- Um colega de trabalho que, em vez de se inspirar no sucesso de outro, sente raiva ao ver uma promoção acontecer.
- Um amigo que desdenha a felicidade alheia em um relacionamento, criticando ou minimizando a felicidade do casal.
- Alguém que torce para que o empreendimento de um conhecido não prospere, apenas para que ele não se destaque mais.
Para Klein, a inveja surge nos primeiros dias de vida e está relacionada à relação da criança com o seio materno. Ela oscila entre o desejo pelo objeto bom (que alimenta e acolhe) e o ressentimento pelo objeto mau (sua ausência). Esse dualismo pode influenciar a maneira como o indivíduo lida com suas emoções ao longo da vida.
Já Jacques Lacan vê a inveja como um mecanismo de identificação e comparação. Ao olhar para o outro, projetamos e introjetamos características que moldam nosso próprio "eu". No entanto, a inveja pode gerar uma ruptura nesse processo, dificultando a delimitação da identidade própria.
Inveja, Cobiça e Ciúme
É comum confundir a inveja com a cobiça ou o ciúme, mas há diferenças importantes:
- Ciúme: medo de perder algo que se considera exclusivamente seu, gerando um sentimento de posse exagerado.
- Exemplo: Uma pessoa que sente ciúmes excessivos do parceiro, acreditando que ele não pode conversar com outras pessoas sem que haja uma ameaça ao relacionamento.
- Cobiça: desejo por algo que o outro tem, sem necessariamente querer prejudicá-lo.
- Exemplo: Admirar um amigo que tem um carro novo e desejar um similar, sem ressentimentos.
- Inveja: desejo de ter o que é do outro, acompanhado do ressentimento e, muitas vezes, do desejo de vê-lo sem aquilo.
- Exemplo: Alguém que vê um colega ganhar uma bolsa de estudos e sente raiva, pensando que ele não merece.
Enquanto o ciúme e a cobiça podem ter aspectos menos destrutivos, a inveja tende a ser marcada pela hostilidade.
O Impacto da Inveja no Cérebro
Pesquisadores japoneses realizaram um estudo que revelou que a inveja ativa a mesma região cerebral associada à dor física: o cíngulo anterior.
No experimento, estudantes foram estimulados a imaginar situações em que eram comparados a pessoas bem-sucedidas. Quando se sentiram invejosos, essa região do cérebro foi ativada. Curiosamente, quando imaginavam que essas pessoas enfrentavam fracassos (como demissões ou rompimentos amorosos), a área do prazer era acionada. Esse fenômeno, chamado de schadenfreude (palavra alemã que significa "alegria com a desgraça alheia"), evidencia a conexão entre inveja e satisfação diante da queda do outro.
Como Identificar e Lidar com a Inveja?
A inveja pode se manifestar em diferentes comportamentos. Pessoas invejosas geralmente:
- Não celebram as conquistas dos outros.
- Criticam constantemente para diminuir os outros.
- Evitam elogiar, pois isso os incomoda.
- Subestimam conquistas alheias e exaltam suas próprias.
- Estão sempre comparando e competindo.
- Sentem prazer ao ouvir sobre problemas dos outros.
Exemplos práticos incluem:
- Um vizinho que desvaloriza uma reforma na casa do outro dizendo que não foi bem feita.
- Um colega que evita parabenizar um amigo por suas realizações.
- Alguém que constantemente faz comentários sarcásticos sobre a aparência ou estilo de vida de outro.
Para minimizar a influência da inveja em nossas vidas, podemos adotar posturas mais saudáveis:
- Reconhecer que cada pessoa tem sua trajetória única.
- Evitar comparações destrutivas.
- Focar em nossas próprias metas e evolução.
Se alguém invejoso prejudicar seu bem-estar, o afastamento pode ser necessário. Se possível, converse e ajude essa pessoa a enxergar seus próprios méritos, reduzindo a necessidade de comparação.
Existe Inveja "Boa"?
Não. A ideia de uma "inveja branca" surge da tentativa de suavizar um sentimento moralmente condenável. No entanto, a inveja, em sua essência, envolve ressentimento e desejo de privar o outro.
Reflexão Final
A inveja pode aprisionar e destruir. Quando olhamos excessivamente para o outro, deixamos de lutar por nossas próprias conquistas. Cada pessoa tem sua história, desafios e caminhos, e ao compreender isso, nos libertamos da comparação e nos aproximamos de uma vida mais plena e realizada.
Até a próxima!
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